Internacional Efeitos Tóxicos

O legado tóxico do 11 de Setembro: quase 50 mil diagnósticos de câncer ligados ao ataque terrorista nos EUA

Dados do Programa de Saúde do WTC revelam dimensão silenciosa da tragédia

10/09/2025 08h25
Por: Victor Santos
Número de diagnósticos de câncer relacionados ao 11/9 já supera o total de vítimas fatais dos ataques (Foto: Reprodução/Youtube)
Número de diagnósticos de câncer relacionados ao 11/9 já supera o total de vítimas fatais dos ataques (Foto: Reprodução/Youtube)

Mais de 48 mil pessoas já foram diagnosticadas com cânceres relacionados à exposição tóxica após o ataque ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, superando o número de vítimas fatais da tragédia. Os dados são do Programa de Saúde do WTC, citados pelo New York Post, e refletem as consequências de longo prazo enfrentadas por socorristas e sobreviventes quase 25 anos após o atentado.

Segundo o levantamento mais recente, até março de 2025, 48.579 pessoas — entre bombeiros, policiais, paramédicos e civis — receberam diagnóstico de câncer em decorrência da exposição a substâncias tóxicas liberadas durante o colapso das torres e nos trabalhos de remoção de escombros no aterro de Fresh Kills, em Staten Island.

 

Câncer após o heroísmo

Os tipos de câncer detectados são diversos, incluindo pele, próstata, mama, melanoma, linfoma, leucemia, tireoide, rim, pulmão e bexiga. O número de casos aumentou 143% nos últimos cinco anos, o que especialistas atribuem tanto à exposição prolongada a toxinas quanto ao envelhecimento da população afetada, que agora se encontra, em sua maioria, na faixa dos 50 a 60 anos.

Entre os atingidos está John DeVito, policial aposentado da NYPD, que trabalhou no Marco Zero e no aterro sanitário sem equipamento de proteção adequado. Diagnosticado com câncer de esôfago em 2020, DeVito passou por várias sessões de quimioterapia e cirurgia. “Todos disseram que tudo estava seguro”, relembra ele. Hoje, ele é avô de Charlotte, de apenas um ano.

Outro caso emblemático é o do também policial aposentado Glenn Taraquinio, diagnosticado com câncer de próstata. Ele relata que a poeira no local era intensa e visível. “As máscaras ficariam pretas em uma hora”, afirma. Sua história reforça a sensação de desinformação e descaso inicial com os riscos ambientais após os ataques.

A paramédica Ivonne Sanchez, diagnosticada com câncer de mama em 2013, e o capitão aposentado Phil Rizzo, que recebeu diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço em 2023, também lutam contra doenças graves decorrentes da exposição. Ambos se preparam para viajar a Washington, D.C., com o objetivo de pressionar o Congresso por assistência médica contínua aos afetados.

 

Programa ameaçado

Mesmo diante da crescente demanda por atendimento, o Programa de Saúde do WTC enfrenta incertezas financeiras. Em 2024, o Congresso dos EUA excluiu o financiamento do programa do orçamento federal, colocando em risco a assistência a mais de 137 mil pessoas que dependem dos serviços médicos.

A decisão foi duramente criticada por líderes sindicais e políticos, incluindo os senadores Chuck Schumer e Kirsten Gillibrand, que exigem uma solução urgente para manter o programa. Para os atingidos, a omissão governamental representa uma segunda traição, após anos de sacrifício e promessas não cumpridas.

Enquanto isso, os socorristas continuam lutando — não apenas contra as doenças, mas também por reconhecimento, justiça e cuidado adequado. A história que começou em 2001 ainda não terminou, e os desdobramentos da tragédia seguem impactando milhares de vidas.

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